quinta-feira, 10 de maio de 2012

Matéria: Uma Nôva pegada para um rock tradicional


Uma 'Nôva' pegada para um rock tradicional

Banda sorocabana lança o EP 'Tempo' na internet e anuncia que show de estreia será no dia 16 de maio, no Asteroid Bar
Notícia publicada na edição de 10/05/2012 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 1 do caderno C - o conteúdo da edição impressa na internet é atualizado diariamente após as 12h.
Luiz Fernando Toledo
luiz.toledo@jcruzeiro.com.br


Seis jovens e alguns instrumentos musicais fechados em uma sala durante meses. A ideia de décadas atrás se renova com frequência e continua apaixonando. Partindo de um nicho de sonoridade em ascensão constante no Brasil, "o rock alternativo", a banda Nôva se propôs a fazer uma música que não fugisse dos moldes tradicionais do gênero, ao mesmo tempo flertasse com elementos de peso, característicos do heavy metal, e ainda a euforia do pop contemporâneo. Nas palavras, a mistura soa mais complicada do que realmente é. Mas o ritmo do EP "Tempo", criado pelos músicos Fernando Xavier (vocal), Paick Alix (guitarra), Gustavo Kussuki (guitarra), Guilherme Hoffart (teclado), Pedro Barbosa (bateria) e Thiago Bertola (baixo), flui como poucos desta nova geração.

Com produção e mixagem do músico Felipe Colenci, o EP traz cinco faixas com letras em português: "Superficial", "Estrada sem fim", "Eu sei", "Teatro" e "Tempestade". A opção pelo nosso idioma, contrária a uma legião de bandas de rock que preferem o tradicional inglês, se deve a um fator explicado pelo guitarrista Gustavo Kussuki: "Queríamos transmitir sinceridade nas músicas. Em inglês, acabaríamos com frases longe da nossa realidade e não nos expressiaríamos bem", argumenta. O som, que alterna guitarras pesadas, solos de teclado e um baixo constante, tem refrões grudentos e letras que o grupo explica como "a ânsia jovem com a poesia adulta". 

Favoráveis à expansão da internet como principal meio de divulgação do trabalho artístico dos músicos, o Nôva disponibilizou as cinco músicas para download gratuito em sua página no Facebook. Para baixá-las, basta acessar: http://www.facebook.com/novaoficial. Para quem prefere adquirir o CD, a banda fará seu primeiro show no dia 16 de maio, no Asteroid Bar. A comercialização do material será inusitada: não haverá preço fixo. "O público vai pagar quanto achar que o EP vale ou mesmo quanto tiver de dinheiro na bolso na hora", explica Kussuki.
 
Histórias e metas 
Com uma distância considerável entre a criação da banda, em 2009, e o lançamento do primeiro material oficial, em 2012, o guitarrista e estudante de engenharia civil Paick Alix confessa que quase não reconhece sua banda, em relação ao ano em que tudo começou. Eram apenas três ex-membros (Paick, Pedro e Thiago) de uma outra banda de rock, a Falls of Glory, que decidiram criar um novo grupo com ideias focadas no country rock ou algo semelhante.
 
Só que uma coincidência mudaria os rumos do trio. O guitarrista Gus Kussuki, que trabalha na escola musical e studio Music House, aguardava uma banda que ensaiava no local. "Eu estava lá esperando a banda e o Paick apareceu do nada no studio. Acho que não tinha nada pra fazer", brincou Kussuki. Na conversa descompromissada, surgiu o convite de Paick para que o músico entrasse para o Nôva. "Pra falar a verdade, a banda começou com a entrada do Gus. Eu e o pessoal só tínhamos feito uns dois ou três ensaios no começo", comentou Paick.

O posto de vocalista foi o empecilho maior. Foram seis testes antes do grupo encontrar o estudante de publicidade Fernando Xavier. "Nós tentamos muita gente, mas ninguém se adequava ao nosso som, às nossas ideias. Até eu tentei cantar, quando vi que não daria certo com ninguém, mas sou muito tímido para isso", explica Gus Kussuki. Trocando olhares bem humorados com Paick, relembrou: "Foram tantas tentativas, que até faltavam argumentos para dispensar os candidatos." Conheceram Xavier em um evento da Virada Cultural Paulista 2010, que ocorreu na Usina Cultural. O estilo plural de Fernando, que mesclava o rock tradicional com o heavy metal, foi decisivo para entrar na banda.

Já o tecladista Guilherme Hoffart entrou na banda por experimentação do grupo. "No começo, queríamos apenas que ele nos desse uma força com samplers", explica Paick. "Era para ele ir em alguns ensaios, mas acabou frequentando todos e nos ajudando a criar as músicas", completa Gus. A banda o considera "como um terceiro guitarrista", que não serve apenas para preencher o som, como em outras bandas de rock, mas como o membro que incorpora sons diferentes e dá uma nova roupagem às musicas. O integrante também participa das composições e das letras. Fernando explica que a música "Tempestade" foi inspirada na trajetória do tecladista, que abandonou um emprego no banco, em que estava há cinco anos, para se dedicar à música. "É uma faixa que fala da paixão de se fazer aquilo que realmente se gosta", esclarece.

Para 2012, o Nôva planeja o lançamento de um videoclip, que será produzido por Alex Batista, mas ainda não divulga qual será a música. Pensam também em um novo EP, pois já têm outras músicas finalizadas e desejam mostrar o novo repertório ao público. "Acredito que a nossa principal meta do ano será divulgar nosso som. Será show atrás de show", finalizou Fernando.

domingo, 6 de maio de 2012

Matéria: Ação, violência e, principalmente, vingança


Ação, violência e, principalmente, vingança

Aos 26 anos, o estudante de história Icles Rodrigues é autor de cinco livros, cuja linguagem remete à sétima arte
Notícia publicada na edição de 07/06/2012 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 002 do caderno C - o conteúdo da edição impressa na internet é atualizado diariamente após as 12h.

 Luiz Fernando Toledo


Se a máxima "qualidade antes de quantidade" for verdadeira, Icles Rodrigues pode se considerar um vitorioso nas duas facetas da afirmação: aos 26 anos, o estudante de História de Florianópolis já escreveu cinco livros e prepara o sexto. Passagens viscerais e um texto dinâmico são características frequentes em sua obra, que permite ao leitor adentrar o universo literário quase como se assistisse a um filme de ação. E se realmente o fosse, Quentin Tarantino provavelmente se interessaria pelo roteiro, recheado de sequências frenéticas de pancadaria, sentimentos de vingança e analogias com clássicos da literatura e do cinema.

A comparação com o diretor de cinema que trouxe "Bastardos Inglórios" e "Kill Bill" não é vã. Rodrigues assume ter mais influência do cinema que da literatura para criar e narrar suas histórias. Na verdade, as técnicas e referências parecem se complementar. "A Divina Tragédia", quinta obra do jovem, traz diálogos rápidos e uma narrativa em primeira pessoa que permite certa aproximação com os personagens, sejam eles vilões ou heróis. Golpes e feridas são descritos de forma realista e meticulosa, dando vida aos protagonistas "Dante" e "Virgílio", clara referência ao poema épico de Dante Alighieri, "A Divina Comédia". O enredo gira em torno desta dupla, que só leva o nome de personagens do renascentismo europeu, mas que vive na sujeira e no escárnio de uma cidade de crimes e prostituição, em pleno século 21. A impressão de "filme violento" é reafirmada por diálogos caricatos, palavrões frequentes e até mesmo citações diretas, como quando um dos personagens se compara a Alex Delarge, protagonista do filme "Laranja Mecânica", do diretor Stanley Kubrick.


Trilogia


"Santificada seja minha vingança" é a primeira parte de uma trilogia criada por Rodrigues, que se completa com "A Marca de Caim" e "Arautos do Anticristo". Nesta história, citações bíblicas climatizam, de maneira quase épica, a história de Gabriel Fernandes, jornalista investigativo que descobre os trâmites fraudulentos e criminosos do empresário Matheus Garcia e, por causa de sua investigação, tem sua vida e a dos que o cercam posta em risco. Logo na introdução, a citação ao versículo 10 do capítulo bíblico do Apocalipse gera tensão ao leitor, prevendo um enredo que permite poucas reflexões imediatas, mas incita a curiosidade e instiga pelo ritmo das ações: "Clamaram em grande voz, dizendo: Até quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?", anuncia o trecho.

Nos dois livros lançados após a trilogia, "Era uma vez em Leningrado" e "A Divina Tragédia", Rodrigues inovou e se aproximou mais uma vez da linguagem cinematográfica, ao usar amigos "reais" como atores, que participaram das fotografias que ilustram as duas histórias. Ele próprio participa de algumas das imagens, fazendo o papel de protagonista destas obras. De autoria do próprio escritor na maioria dos casos, estas ilustrações ajudam a dar vida aos textos e a criar maior identificação visual com a história. O próximo livro, que deverá se chamar "Freiras Assassinas", terá este trabalho visual apenas na capa. Rodrigues está finalizando a produção e edição das imagens para lançá-lo, mas o texto já está finalizado.


Primeira pessoa


A narrativa em primeira pessoa forma personagens bem definidos e confere ao leitor uma espécie de "onisciência" dos fatos. Dessa forma, os heróis acabam deixando escapar que sua conduta não é tão idônea quanto transparece. A mudança rápida da ótica do mocinho para o bandido mostra, de certa forma, que eles não são tão diferentes. Característica principal presente em todos os livros de Rodrigues, o sentimento de vingança é frequente e o discurso dos personagens reflete um pensamento do autor: "Minha maior ligação com os personagens é o sentimento de que a impunidade leva, invariavelmente, a um senso de justiça deturpado, que se torna uma vingança", afirma.

Os três primeiros livros podem ser considerados uma leitura rápida, com muito enfoque na ação e no desfecho direto dos personagens. A média de 100 páginas cada ajuda a reforçar este pensamento. Já em relação aos dois últimos, há mais espaço à introspecção dos personagens e a diálogos maiores e mais expressivos, aumentando a densidades dos textos. A linguagem é simples e coesa, mas não óbvia, permitindo aproximação dos mais diversos tipos de público. Todas as obras podem ser obtidas por meio do site da editora online Agbook, pelo endereço http://agbook.com.br/authors/20684