quarta-feira, 12 de agosto de 2009

A dialética do ser

Calma! Não é um texto de filosofia, muito menos acadêmico. O que pretendo definir a seguir, é um pensamento que desenvolvi nas aulas de teatro, e que tem me ajudado a "aceitar" melhor as pessoas como elas são(ou tentam ser).

Em primeiro plano, vamos definir dialética.

A dialética pode ser descrita como a arte do diálogo. Uma discussão na qual há contraposição de idéias, onde uma tese é defendida e contradita logo em seguida; uma espécie de debate. Sendo ao mesmo tempo, uma discussão onde é possível divisar e defender com clareza os conceitos envolvidos. (http://www.infoescola.com/)

Simplificando, é a contraposição de ideias. Falar de um determinado assunto expondo claramente as várias facetas de tal.

Em uma história infantil, como Branca de Neve, temos o binômio bem x mal sendo mostrado de uma forma extremamente simples e bruta. A Branca de Neve, totalmente pura, e a Bruxa, totalmente má. Elas são as 'facetas' sendo mostradas de uma forma que não ocorre na realidade.Talvez essa forma de enxergar as coisas tenha um pouco a ver com o público alvo. Crianças são mais "puras", por assim dizer.

Já em Os Últimos Passos de um Homem(Deadman Walking), um dos filmes mais conceituados com o ator Sean Penn, o rumo é outro. O personagem central, Matthew Poncelet, é um assassino cruel, revoltado e complexo, que aguarda sua execução. Temos aqui um protagonista dialético. Com a mesma intensidade de "maldade" que Matt inicia sua história, ele se arrepende. A cada cena, fica a dúvida: "como é que ele vai reagir? Quem é esse personagem?"; A cada fala, uma interpretação diferente de suas atitudes e de seus objetivos.

Até hoje não sei dizer o que acho de Hannibal Lecter, o famoso psiquiatra canibal dos cinemas. Suas atitudes entravam em contraste o tempo todo com sua inteligência e habilidade para compreender, solucionar e surpreender. Um criminoso perigoso e sem escrúpulos? Um gênio? Não sei. É simplesmente uma personagem fascinante, e de grande complexidade. E desse, existem muitos no mundo do cinema, e por que não dizer no mundo real?

Parafraseando o personagem Dean Winchester(do seriado Supernatural): “Demons I Get, people are crazy“. A lógica nem sempre é inerente ao ser humano, nem a seus padrões. Entender a si mesmo é penetrar um mar às cegas, é respirar do pó e das cinzas de uma terra abatida e nebulosa.

Se entender a si mesmo é difícil, imagine o próximo. Pior então os que não estão tão próximos assim. Ninguém é formado por características inteiramente puras. Não somos desenhados, nem desenvolvidos por algum tipo de software. Cada um com seus defeitos e oscilações de temperamento. Ninguém consegue ser a mesma pessoa o tempo todo. Um dia tratamos todo mundo bem. Já no outro, queremos evitar conversa. Por um momento, tentamos socializar em todos os lugares, já em outro buscamos um canto para ficar só. Faz parte de nosso modo de ser, e devemos nos respeitar por isso.

Não seguimos padrões. Se entender o ser humano fosse fácil, não precisaríamos de psicólogos, psiquiatras, sociólogos e outros profissionais que dedicam a vida a entender um pouco dessa essência, desse complexo emaranhado de possibilidades e características pessoais que é reservado a cada um de nós. Ser humano vai além da compreensão. É simplesmente ser.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

O tempo destrói, o tempo transforma


Mudando um pouco do padrão de minhas postagens mais recentes, deixo aqui mais uma "crônica" minha que discute os efeitos do tempo em nossas vidas, em nossos caminhos e em nossas escolhas. Espero que gostem. (:




Diálogo

E
o filho contava, com alegria, a seu pai - O Tempo - tudo que havia conseguido na vida até então...



Tenho vivido momentos incríveis, conhecido pessoas maravilhosas e cada precioso sentimento deste mundo. Não vejo como melhorar.

Meu namoro com a Andreia está uma maravilha, nunca brigamos, eu a amo de verdade, e é pra sempre. Não há nada que nos separe.


A faculdade está cada vez melhor. Meu curso é, sem dúvida alg
uma, aquilo que procurei para me realizar. Serei um biólogo dedicado quando me formar, e cuidarei do planeta como se fosse meu próprio corpo. Quero conhecer mais e mais, desvendar mistérios, viajar e descobrir novas culturas, ajudar pessoas. E isso nada vai mudar. Estou convicto de minhas ações futuras.

Tenho os melhores amigos que essa sociedade pode fornecer, me ajudam, me apóiam, e confio neles cegamente como se fossem de minha família. Não tenho nada a reclamar. Eles me fazem rir, me animam nos piores momentos, me completam tanto quan
to a Andréia. Não vejo como me separar deles. O que mais eu deveria extrair da vida?

O Tempo registrava cada expressão de seu filho, já prevendo o que viria a seguir, mas parecia não se animar com tanta positividade. Após ouvir tudo, começou a falar, com o mesmo rosto sombrio e seco, que antes prestava atenção ao filho...

Andréia não é para você, e o namoro logo chegará ao fim. Estará cansado dela. Vocês não devem ficar juntos. Ela te enjoa, ela te irrita, mesmo a menor das manias dela te corrói por dentro a cada instante.

Esse seu sonho de salvar o planeta, desista dele. Não vai te levar a lugar algum, e você só vai descobrir que quanto mais correr atrás, mais descobrirá da desgraça da humanidade. Mas não desanime, talvez encontre outra fonte para sua ânsia de descoberta e conhecimento. Quem sabe, algo melhor ainda.


Definitivamente, seus amigos te limitam. Eles te fecham em um mundo pequeno. Você não gosta deles, você enjoará fácil de tal companhia. Viajará e conhecerá pessoas novas, e a cada passo em sua vida, novas surgirão. E não se cansará de fazer novas amizades. Esse mesmo círculo se afasta a cada dia que se passa, a cada pensamen
to seu. Filho, você me obedecerá, e sem pestanejar, continuará a construir a sua trilha.

Apesar de infeliz, por ora, o filho ouve tudo e obedece sem perceber. A voz de Tempo não sai de sua cabeça, e ele vai continuar pensando de formas diferentes pelo resto de sua existência.

-


O passar dos anos destrói pensamento para colocar outros, em troca. Tudo aquilo que hoje, pode ser o melhor, talvez não signifique nada depois. É por isso que vagam tanto pelos clichês do carpe diem, viva o hoje, viva o presente, e etc.

A única coisa que o tempo não consegue modificar é aquilo que já passou, aquilo que ficou guardado. As lembranças não são mentiras, elas existem, e realmente aconteceram. Dizer que ama alguém hoje e não amar mais no futuro não é ser falso. É algo comum, que pode acontecer a qualquer um. Mudar de carreira, mudar de sonho, até mesmo mudar o estilo musical. Não é falta de personalidade nem falta de rumo. São opções que o tão citado tempo nos atribui de pouco em pouco. E o que nos resta, senão seguí-las?