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Fonte: The New Yorker |
Pragmático, direto, alguns diriam que cruel. Mas esta cena descreve exatamente a personalidade deste personagem, um democrata meticuloso e estrategista. É também uma prévia do que trará a série que parece ter vindo para inovar desde sua concepção.
House of Cards, que estreou este mês, é dirigida por David Fincher, cineasta responsável por obras como "O Curioso Caso de Benjamin Buton", "Clube da Luta", "Seven" e "A Rede Social". Não se trata de uma série convencional, pois não é exibida na TV. A veiculação ocorre apenas pelo programa de streaming Netflix.
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Kevin Spacey interpreta o meticuloso deputado Frank Underwood (foto: Business Insider) |
O roteiro é inteiramente voltado ao mundo da política: a maior parte das cenas ocorre no congresso americano, com homens de terno e gravata dividindo as câmeras. Mas esqueça toda aquela visão midiática entediante do assunto. Aqui as coisas ocorrem com uma velocidade surpreendente, exigindo atenção do espectador para acompanhar cada detalhe dos meandros que o protagonista Underwood se envolve.
O primeiro episódio da série marca uma perda para Frank, que, ao apoiar o presidente eleito Garrett Walker (Michael Gill), esperava o posto de Secretário de Estado, mas fora substituído. "Você é mais importante para nós no congresso", diz uma porta voz do presidente. Paralelo a isto, conhecemos a jornalista Zoe Barnes (Kate Mara), que ainda engatinha em sua profissão exercida no Washington Herald, um dos principais impressos do país. Ou engatinhava, até que uma informação a torna o centro das atenções de seus chefes, além da inveja de outra jornalista responsável pela cobertura de política, Janine Skorsky (Constance Zimmer).
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Zoe Barnes, a novata que se torna protagonista no jornalismo político (foto: Hollywood Reporter) |
A ambição destes dois personagens centrais, Underwood e Barnes, é o ponto mais forte de toda a primeira temporada (13 episódios). Zoe força um encontro com o deputado e eles acabam entrando em um acordo confidencial de informações que beneficiam ambos. Em outro momento, numa galeria de arte, em frente a um quadro com duas pessoas acomodadas em um barco, o democrata expõe a frase que definirá toda a relação da dupla: “estamos no mesmo barco, assegure-se de não vira-lo, porque só posso salvar um de nós”.
Cada passo dado por Underwood é sigiloso. Sair explicando seu plano para desenvolver o principal projeto do governo para a Educação seria um tiro no pé. É aí que o diretor David Fincher mostra a que veio: o deputado revela, por meio de frases ora enigmáticas, ora muito diretas, cada passo que será tomado ao espectador, olhando diretamente para as câmeras. Um belo exemplo de atuação de Kevin Spacey, que consegue passar de personagem dentro e fora do contexto da cena em questão um ou dois segundos. Outro detalhe curioso é que as mensagens de celular enviadas e recebidas por Underwood aparecem na tela como se o espectador as tivesse recebendo, num efeito pop-up que dá mais um diferencial de "imersão" à trama.
Personagens
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As ótimas cenas dos Underwood mostram uma intimidade reveladora do casal (foto: Npr.org) |
Seria injusto manter a história apenas nestes dois personagens citados, embora eles sejam a espinha dorsal de House of Cards. Mais injusto ainda não comentar as histórias paralelas que se desenvolvem ao redor do mundo político de Frank Underwood. Em primeiro lugar, Claire Underwood (Robin Wright), esposa de Frank, é uma mulher bem sucedida, presidente de uma empresa sem fins lucrativos cujo único objetivo é praticar a filantropia. Seus diálogos com o marido são um espetáculo à parte, demonstrando uma relação de cumplicidade tão explicita que chega a deixar o próprio espectador desconcertado. O grande conflito de Claire é a relação que possui com lobistas que querem financiar seus projetos pelo bem da humanidade. Praticar o bem sendo financiada pelo mal. Pior ainda se este mal também conhece o passado de seu marido.
Outro personagem bem desenhado e estruturado na trama é Peter Russo (Corey Stoll), deputado que tem constantes conflitos com a polícia devido ao seu vício em drogas e envolvimento com prostitutas. Com esta "ficha suja", Russo torna-se um verdadeiro bode espiatório para quase todos os planos traçados por Underwood.
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Peter Russo é a "cobaia" dos planos de Underwood (foto: Indiewire.com) |
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