domingo, 6 de maio de 2012

Matéria: Ação, violência e, principalmente, vingança


Ação, violência e, principalmente, vingança

Aos 26 anos, o estudante de história Icles Rodrigues é autor de cinco livros, cuja linguagem remete à sétima arte
Notícia publicada na edição de 07/06/2012 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 002 do caderno C - o conteúdo da edição impressa na internet é atualizado diariamente após as 12h.

 Luiz Fernando Toledo


Se a máxima "qualidade antes de quantidade" for verdadeira, Icles Rodrigues pode se considerar um vitorioso nas duas facetas da afirmação: aos 26 anos, o estudante de História de Florianópolis já escreveu cinco livros e prepara o sexto. Passagens viscerais e um texto dinâmico são características frequentes em sua obra, que permite ao leitor adentrar o universo literário quase como se assistisse a um filme de ação. E se realmente o fosse, Quentin Tarantino provavelmente se interessaria pelo roteiro, recheado de sequências frenéticas de pancadaria, sentimentos de vingança e analogias com clássicos da literatura e do cinema.

A comparação com o diretor de cinema que trouxe "Bastardos Inglórios" e "Kill Bill" não é vã. Rodrigues assume ter mais influência do cinema que da literatura para criar e narrar suas histórias. Na verdade, as técnicas e referências parecem se complementar. "A Divina Tragédia", quinta obra do jovem, traz diálogos rápidos e uma narrativa em primeira pessoa que permite certa aproximação com os personagens, sejam eles vilões ou heróis. Golpes e feridas são descritos de forma realista e meticulosa, dando vida aos protagonistas "Dante" e "Virgílio", clara referência ao poema épico de Dante Alighieri, "A Divina Comédia". O enredo gira em torno desta dupla, que só leva o nome de personagens do renascentismo europeu, mas que vive na sujeira e no escárnio de uma cidade de crimes e prostituição, em pleno século 21. A impressão de "filme violento" é reafirmada por diálogos caricatos, palavrões frequentes e até mesmo citações diretas, como quando um dos personagens se compara a Alex Delarge, protagonista do filme "Laranja Mecânica", do diretor Stanley Kubrick.


Trilogia


"Santificada seja minha vingança" é a primeira parte de uma trilogia criada por Rodrigues, que se completa com "A Marca de Caim" e "Arautos do Anticristo". Nesta história, citações bíblicas climatizam, de maneira quase épica, a história de Gabriel Fernandes, jornalista investigativo que descobre os trâmites fraudulentos e criminosos do empresário Matheus Garcia e, por causa de sua investigação, tem sua vida e a dos que o cercam posta em risco. Logo na introdução, a citação ao versículo 10 do capítulo bíblico do Apocalipse gera tensão ao leitor, prevendo um enredo que permite poucas reflexões imediatas, mas incita a curiosidade e instiga pelo ritmo das ações: "Clamaram em grande voz, dizendo: Até quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?", anuncia o trecho.

Nos dois livros lançados após a trilogia, "Era uma vez em Leningrado" e "A Divina Tragédia", Rodrigues inovou e se aproximou mais uma vez da linguagem cinematográfica, ao usar amigos "reais" como atores, que participaram das fotografias que ilustram as duas histórias. Ele próprio participa de algumas das imagens, fazendo o papel de protagonista destas obras. De autoria do próprio escritor na maioria dos casos, estas ilustrações ajudam a dar vida aos textos e a criar maior identificação visual com a história. O próximo livro, que deverá se chamar "Freiras Assassinas", terá este trabalho visual apenas na capa. Rodrigues está finalizando a produção e edição das imagens para lançá-lo, mas o texto já está finalizado.


Primeira pessoa


A narrativa em primeira pessoa forma personagens bem definidos e confere ao leitor uma espécie de "onisciência" dos fatos. Dessa forma, os heróis acabam deixando escapar que sua conduta não é tão idônea quanto transparece. A mudança rápida da ótica do mocinho para o bandido mostra, de certa forma, que eles não são tão diferentes. Característica principal presente em todos os livros de Rodrigues, o sentimento de vingança é frequente e o discurso dos personagens reflete um pensamento do autor: "Minha maior ligação com os personagens é o sentimento de que a impunidade leva, invariavelmente, a um senso de justiça deturpado, que se torna uma vingança", afirma.

Os três primeiros livros podem ser considerados uma leitura rápida, com muito enfoque na ação e no desfecho direto dos personagens. A média de 100 páginas cada ajuda a reforçar este pensamento. Já em relação aos dois últimos, há mais espaço à introspecção dos personagens e a diálogos maiores e mais expressivos, aumentando a densidades dos textos. A linguagem é simples e coesa, mas não óbvia, permitindo aproximação dos mais diversos tipos de público. Todas as obras podem ser obtidas por meio do site da editora online Agbook, pelo endereço http://agbook.com.br/authors/20684

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