"House" terminará em abril, após 8 temporadas de sucesso
A troca de atores contribuiu para repentina queda de audiência
Luiz Fernando Toledo
luiz.toledo@jcruzeiro.com.br
O mais famoso e misantropo médico da televisão vai encerrar suas atividades em abril. Criado em 2004, por David Shore, a série médica da Fox - que também é transmitida pela Record, às quartas-feiras -, terá a oitava temporada como a última da série, conforme anúncio feito pelos produtores essa semana. Apesar de manter a audiência elevada, "House" registrou queda significativa de espectadores após sofrer mudanças drásticas no elenco e no roteiro. A saída da atriz Lisa Edelstein, que interpretava o par romântico de House, Lisa Cuddy, e as mudanças no quadro de funcionários do hospital Princeton-Plainsboro trouxeram grande impacto aos fãs da série.
Em mais de 150 episódios que foram ao ar desde o episódio piloto, "House" se destacou por romper com quaisquer que fossem os códigos de conduta médicos, preceitos éticos aceitos pela sociedade e moralidades intrínsecas a qualquer ser humano. O método "socrático" de trabalho em equipe de Gregory House (interpretado pelo ator Hugh Laurie) trouxe uma relação dialética entre os personagem que a ele se relacionavam. Odiá-lo, amá-lo, respeitá-lo ou ignorá-lo? Das quatro opções, somente a última era inevitavelmente descartada por sua equipe médica e seu único amigo, James Wilson.
A personalidade do médico desafiava o entendimento dos espectadores da série. Centenas de críticas e análises do personagem constam nas páginas da web, além de livros, que além de tratar do personagem, fazem questão de explorar a série em sua amálgama de questões pertinentes à filosofia e ética medica, ao mesmo tempo em que aborda temas comuns como o amor e a amizade.
O humor se tornou parte dos diálogos caricatos de House e seus pacientes clínicos, ou mesmo quando ridicularizava sua equipe médica. Enquanto discutiam um caso da septuagésima doença que poderia se tratar de "lupus", mas no fim não era, aproveitavam para ironizar a baixa estatura e o nariz grande do médico Taub, a bissexualidade de Thirteen e a afável filantropia do oncologista Wilson.
Mesmo para um observador externo, que assista apenas um dos episódios de forma descontextualizada, a reflexão introspectiva gerada pelos acontecimentos é inevitável. Despir-se das amarras de toda e qualquer decisão considerada comum é o primeiro passo para se integrar no universo de "House", em que qualquer atitude suspeita de um paciente pode ser considerada um sintoma. Um excesso de altruísmo por parte de um homem rico pode ser um sintoma. Respeitar o acordo de D.N.R (Do not ressuscitate, ou a "ordem de não ressuscitar") de um doente é opcional.
A religião teve espaço fundamental nas discussões da série. Apesar de enfatizar por diversas vezes o ateísmo do protagonista, David Shore tomou o cuidado de incluir minúcias que deixassem claro que nem mesmo o persuasivo médico das evidências fosse totalmente convicto da ausência de um deus, além de respeitar outras crenças ao longo do seriado.
O final da sétima temporada, estrondoso em seu desfecho de insanidade, abriu espaço para um final de série com um roteiro bem amarrado. Apesar dos poucos episódios que restam, saberemos em breve que fim levará o desumano mais humano da história da televisão.
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