A TV tem o papel de educar?
O jornalista Carlos Nascimento, do Jornal do SBT, bradou a afirmação de que "já fomos mais inteligentes", logo na abertura do noticiário de ontem. Sua crítica se referia ao fato, de que os assuntos "Luísa, que voltou do Canadá" e "estupro no BBB" ocuparam as manchetes de diversos jornais do país, destacando-se até mesmo na TV, com uma reportagem feita pelo Jornal Hoje, na qual Luíza foi entrevistada assim que retornou ao Brasil.
Apesar das razões superficiais e de cunho humorístico pelas quais a jovem Luísa se tornou "famosa" em todo o país, é relevante avaliarmos o poderio da internet no caso, em tempo das massivas redes sociais que emergem protestos - mesmo que de forma secundária - e de como os internautas conseguem conduzir, "do nada" uma informação por todos os cantos. Já o Big Brother, não é novidade que suas repercussões se alastrem por toda a rede e seja pauta de diversas rodinhas de conversa. Soma-se isto a um caso policial - um suposto estupro - e o circo está armado.
O jornalista ainda aponta que "ou os problemas brasileiros estão todos resolvidos ou nos tornamos idiotas, por dar tanta importância a duas notícias tão fúteis". Como se a culpa da falta de atenção do brasileiro em relação aos "temas relevantes do jornalismo " fosse dessas notícias. Como se o próprio jornal do SBT não apelasse para "matérias sem importância" também para atrair audiência. Está aí uma clara inversão dos agentes da "ignorância" do povo. E neste quesito, destaco também o estardalhaço que os internautas vêm fazendo nas redes sociais, afirmando que quem assiste Big Brother é sem cultura, ou, "quem vê TV é burro".
Existe uma lógica, enraizada há anos na mentalidade de muitos, e inclusive suportada por alguns escritores e entusiastas, de que a televisão é um meio de comunicação que não transmite nenhuma cultura (que no ponto da sociologia não faz nenhum sentido), e serve apenas para "emburrecer a população". Que a manipulação existe, nós sabemos. Ela está em toda parte, de fato, especialmente na TV. Porém, assiste o programa "ruim" quem quer, acompanha a novela quem quer. Ninguém é obrigado. E a internet, ao menos para a classe média (que é o motor das redes sociais) , é tão popular quanto a TV, senão mais. Não faltam canais de informação, portais, blogs e vídeos com enciclopédias de informação dos mais variados temas para quem deseja se informar.
Não que o meio de comunicação não seja influente. Ele é, e muito. Mas não somos mais ingênuos como outrora. Na verdade, mesmos com críticas tão superficiais rondando os comentários, já é perceptível que o cidadão está mais atento aos fatos. As informações são despejadas o tempo todo, o que dificulta fitrá-las, mas elas existem, o que leva a pensar que o verdadeiro culpado pela "desinformação" não é este.
Televisão não é escola. Se o cidadão não sabe em quem vota nem se preocupa com os políticos que estão no poder, é porque ele não foi bem educado em seu ensino básico. A culpa sempre recai em qualquer lugar, menos na instituição do ensino. Enquanto enfrentamos problemas de precariedade nas escolas públicas e salários irrisórios aos educadores, ter programas de "baixa qualidade" na TV deveria ser um problema praticamente imperceptível aos olhos dos vociferantes jornalistas e internautas revoltados.
Você falou exatamente TUDO que está engasgado há meses na minha garganta!
ResponderExcluirMuito obrigada Luiz!
A mídia tem sido responsável pelo fluxo de informações em nossa sociedade, podendo influenciar sobremaneira a formação da opinião pública, seja favorável ou desfavorável, em relação à pessoas, grupos e organizações. Desta forma, nossas opiniões podem ser direcionadas, ficando comprovada a idéia de que somos condicionados sobre o quê pensar,antes e durante a formulação de nossas opiniões.
ResponderExcluirConcordo em partes. Mas e o ser que está diante dessa mídia? Ele não tem decisões próprias? Não age por si mesmo? Não investiga a veracidade das notícias? Se não, a culpada é a mídia? Ou o responsável pela formação intelectual desse indivíduo?
ResponderExcluirGostei do texto! Contestou muito bem essa fala infeliz do Carlos Nascimento. Também escrevi sobre isso tudo, caso queira ler:
ResponderExcluirhttp://zonadeimpactogx.blogspot.com/2012/01/comunicacao-big-brother-brasil-e-luiza.html
Luiz, o grande desafio da educação ou no caso do educador, aquele professor que faz valer a conotação da palavra educar, é justamente as rupturas para com os elementos externos do consumismo/futilidade/imagens supra sensíveis promovidas pela sociedade do espetáculo. O aluno, o jovem, o cidadão, nós, estamos inseridos no meio dessa sociedade do espetáculo. Somos desde cedo moldados para trabalho/consumo e quando um jovem diverge dos demais, vem os absolutismo modais das escolas e esmagam esse jovem ou isso ocorre em outros campos sociais.
ResponderExcluirInfelizmente a educação é Macdonaldizada e a própria imprensa, se é que dá para chamar a Abril de imprensa, é quem mais da suporte a essa lamentável condição de transformar a educação em linha de produção para mão de obra barata e semi alfabetizada para as grandes corporações. Meu amigo, a Veja recentemente teve a audácia de publicar em suas páginas que o ensino de história, sociologia e filosofia deveriam ter suas grades diminuídas ou até excluídas da grade escolar, pois a única coisa que servem é promover esquerdismo! Olha o crime histórico contra a humanidade!
Eu odeio generalizações como "as massas são condicionadas" isso é de um tremendo paternalismo e elitismo que prefiro evitar, mas convenhamos desde que nascemos somos moldados. Aliás, já que priorizei a questão da educação, é importante salientar que os professores também o são! Eles também são indivíduos que foram moldados pelo mesmo "sistema" ou até um pior, principalmente quando falamos de prof. mais velhos que estudaram e se formaram na Ditadura Militar.
Platão já falava em seu lendário texto mito da caverna sobre isso... O tal condicionamento, pode ser rompido desde que o indivíduo tenha contato com alguma micro resistência seja ela uma subcultura juvenil ou uma concepção filosófica social. Mas mesmo assim isso não impede de estar preso a jargões aos quais foi condicionado desde cedo. Quer um exemplo?
Garotos de classe média que montam bandas anarco-punks. Em off você sabe que os caras tiram sarro da moça crente ou do rapaz homossexual. Há um que de paternalismo hétero domesticador na sociedade ocidental cristã, quando cara se incomoda com um beijo gay, é esse sentimento de longa duração que está latejando, um sentimedo que perdura desde o séc X (+-). A moça crente em compensação os incomoda porque sua concepção é totalitária. O ateísmo é uma verdade, tão absoluta quanto Deus na fé da moça. Ou seja, mesmo dentro de uma banda anarco-punk com concepções que deveriam ser rupturas plenas temos apenas um esteriótipo de ruptura, uma ruptura no âmbito social e não ampla.
Eu diria que não há culpados. Apenas o capital buscando sua hegemonia de forma que para as grandes empresas seja harmônico o lucro, o prestígio e o poder.
Mas seu texto está muito bom hehe. Eu não comentária tão enfezado se não tivesse gostado. kkkkkkkkkkkk
ResponderExcluirEu diria que o Brasil precisa de jornalistas com esse senso. Alias você conhece o blog do Sakamoto??? Muito bom!Ótimo jornalista!
Luiz, gostei muito do artigo e concordo com quase tudo. Sou um crítico ferrenho da TV aberta brasileira pois acho que ela não cumpre um papel social, especialmente levando-se em conta que grande parte do público é formado por crianças que não têm senso crítico para discernir o bom do ruim. Gosto do anarquismo proporcionado pela internet, que está tirando um pouco de poder dessa mídia e permitindo que mais pessoas, mais jornalistas, mais artistas e cidadãos em geral possam comunicar o que pensam/sentem diretamente para as outras pessoas, sem precisar dos "filtros" comerciais de gravadoras, editoras, diretores de TV, etc. Como profissional de conteúdo, vou sempre defender que a TV precisa criar vergonha na cara, e aproveitar seu potencial maravilhoso para realizar coisas realmente grandes e bonitas. Mas infelizmente esse meio está tomado por um bando de vendedores de pamonha disfarçados de executivos, que só sabem ver o lucro imediato e são, como dizia um poema russo que esqueci o nome, como porcos que escavam a raiz da árvore que os alimenta. A indignação do Carlos Nascimento com a história da Luísa reflete muito do desespero desse veículo que não soube se reinventar e tem alergia à qualidade, mesmo em seu jornalismo recitativo e repleto de piadinhas que eles julgam tão bom. Não que não haja bons profissionais na TV, mas esses são a exceção, não a regra. A regra é uma grade de programação tão chata e repetitiva que chega a ser deprimente. Bem, é o que eu penso. Parabéns pelo artigo. Você pensa bem e isso é fundamental num jornalista.
ResponderExcluirfalou e disse: http://segunda2opiniao.blogspot.com/2012/01/luiza-ja-voltou.html
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