Discutir a aprovação ou não do projeto da Usina de Belo Monte, desde a sua concepção, sempre foi pauta de um determinado grupo de políticos, intelectuais e jornalistas, beneficiados ou não com a situação. Com a publicação exaustiva do vídeo "Gota d'agua", os artistas da Globo, usando de sua autoridade conquistada na emissora - não pelo exercício da reflexão e investigação política, e sim pelo respaldo de suas profissões na TV - atraíram milhares de curiosos em alguns minutos de um vídeo que encurta, inverte e fere os fatos que concercem a instalação da usina na bacia do Rio Xingu.
O rompimento com a ética avança o âmbito pessoal de cada um dos artistas. Fere, na verdade, uma esfera bem maior, a da Rede Globo. Os princípios editoriais da emissora propõem o afastamento do jornalista em relação aos vínculos político-partidários. Mesmo que artistas não sejam jornalistas, eles abusaram do prestígio que o canal traz em rede nacional, para proliferar suas ideias, mascaradas em um texto simplório e enraizado nas inverdades.

Os desencontros de informação pactuam com a ingenuidade dos argumentos apresentados, seja na pontuação de motivos ditos "fúteis" pelos quais a energia não é tão necessária assim, conforme apontou uma artista ao questionar "como é que eu vou carregar meu iphone, ipad, itudo?", seja pelos dados apresentados de forma a manipular os desatentos: "A usina de Belo Monte vai alagar, inundar, destruir 640 quilômetros quadrados da Floresta Amazônica". Visto que a Floresta Amazônica possui mais de cinco milhões de quilômetros quadrados, tal quantia não atingiria o milésimo de sua extensão.
"A Usina só vai trabalhar com um terço de sua capacidade", reclama um dos participantes do vídeo. Vale lembrar que o Brasil é um país vasto, com grandes necessidades energéticas, que poderiam ser supridas com a hidrelétrica. Quem não enxerga o benefício, é porque já vive nos grandes centros, onde escassez é uma palavra desconhecida.
Minutos mais tarde, são apresentadas as questões ambientais, da população ribeirinha que ficará sem moradia às inundações. O texto contrasta em si: os ajustes operacionais efetuados para que a usina trabalhe com essa capacidade explicitam justamente uma certa preocupação (que ainda precisa ser maturada) com o impacto no meio ambiente.
Na verdade, o impacto ambiental é o expoente mais nebuloso e gerador de dúvidas em relação à instalação da usina. O pensamento da otimização dos ganhos em detrimento da lógica a longo prazo pode trazer prejuízos que só descobriremos dentro de 20 ou 30 anos. Vale ponderar o crescimento do país e a sustentabilidade para tal evolução. É necessário repensar, buscando soluções que beneficiem o andamento do país, mas sem desqualificar a preocupação dos ambientalistas, muitas vezes, tachados de "tolos" pela preocupação excessiva com o meio ambiente, mesmo quando a preservação tolhe o "progresso".
A crítica se encontra além da face anti-ética apresentada pela emissora e pelos artistas, mas na enumeração incompleta (e incorreta) de uma estrutura para haver um debate (em nível nacional) de uma decisão que afetará o país no campo da economia, da política e todos os cidadãos.
Talvez o maior problema, dentre as falácias apresentadas no vídeo, é a confusão que ele traz a quem o assiste. Existem questões imprescindíveis a serem abordadas, e essas merecem um direcionamento, apresentando informações e dados que ajudem o cidadão comum a manifestar sua opinião - talvez um dos únicos pontos positivos em trazer artistas para a política: a popularização de questões desconhecidas do povo.
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