quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Bolo de cenoura

Ser normal às vezes é bom.

Você ouve por aí, diariamente, que o normal é sem graça. Lê nos caça-níqueis de autoajuda que o normal aborrece. Assiste aos filmes que levam o protagonista mais esquisito do anonimato ao auge do sucesso em uma hora e meia de coincidências e boas vontades.

O normal ficou sem graça.  Freak is the new sexy.

Não se acorda cedo, é muito normal. É mais freak ser notívago.  Não se penteia os cabelos, o descabelado é freak. Não se ouve músicas normais. Coma ao menos uma vez por mês em um restaurante com refeições de algum país que você sequer ouviu falar. Jogue no Google, experimente. Cogumelos de Tuvalu temperados com molho de Andorra.

Jamais, frise bem esta palavra, JAMAIS fale de assuntos banais. Eles são feitos para gente normal. Esqueça aquela entrevista que foi ao Fantástico na semana passada enquanto você conversava com seu avô. Fantástico, dizem, é programa de alienado. Mesmo que seja uma ótima reportagem que repercutiu em todos os jornais do país. Globo, dizem, é coisa de gente normal. Não importa se essa frase é ainda mais alienada que sua contradição.

Seguir regras é coisa de gente normal. O freak é transcender. Se tiver uma religião, aliás, é esperado que esta seja originada em alguma tribo africana que ninguém conhece. De jeito nenhum se pode ser um cristão. Ou melhor, até pode. Mas só na hipótese do sujeito ser um ex-ateu culto que decidiu estudar a apologética a fundo para refutar seu passado de normalidade. Afinal, o ateu também se tornou um normal. E normal é banal. Banal é médio. Médio é medíocre.

Também é bom compreender que o manual dos freaks tem limitações. A primeira delas é que seguir manuais é coisa de gente normal. Esqueça tudo que ler. A segunda é que há restrições. Os freaks, como qualquer grupo, desenvolvem hábitos normais e excluem as anormalidades que não os atrai. Não ser normal porque você não come direito é ruim. Ou porque tem uma mania esquisita. Não ser normal porque você não gosta de sair é esquisito. Esquisito ruim. Se não bebe, interne-se que seu caso é grave. Fumar? Socialmente.

Quando uma legião de anormais faz parecer que o mundo aceita todo tipo de anormal, cai por terra que esse tal mundo é mais velho do que se imagina. As regras continuam as mesmas. Anormal é só mais uma tribo. É aí que você se esforça, com toda garra, para ser normal. Muito normal. Mais normal que os normais.  Que a vida fosse um episódio de Malhação. O arroz com feijão bem temperado pela sua avó. Nada de cupcake. A Lagoa Azul da Sessão da Tarde.

Sentimos falta de ter uma conversa banal com uma pessoa querida. Sendo banal, sobra tempo para apreciar essa companhia do outro. Somos conservadores por natureza. E quando você for rejeitado por essa pessoa por ser estranho, quando disserem que você fala de assuntos esquisitos, ou quando você sentir uma dificuldade abissal de arrumar novos amigos, ah, veja só: você vai desejar com todas as suas energias ser um belo bolo de cenoura. 

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