Artigo publicado no site da Revista Vish
Alguns
bastidores de uma história pessoal
A artesã sorocabana Adriana
dos Santos tomou grande espaço da mídia no segundo semestre de 2012. Bombardeou
o site da UOL com visitas e cliques, elevou a audiência do Programa do Gugu e
foi pauta de inúmeras reportagens em jornais diários. A coragem de adotar cinco
crianças carentes, mesmo sem recursos para tal, mobilizou dezenas de pessoas,
que ofereceram doações e ligaram para parabeniza-la pelo feito. O início de minha trajetória no jornalismo
profissional se cruza com esta história.
No mês das mães, é
fundamental que eu diga que provavelmente nada disso teria acontecido se não
fosse pela iniciativa de uma mulher chamada Ilda Benedita de Toledo. Minha mãe.
A curiosidade fez com que ela descobrisse, em uma conversa rotineira que
ocorria em uma feira de artesanato no centro da cidade, que uma mulher acabara
de adotar cinco crianças que eram suas vizinhas na Vila Astúrias. A mãe delas
havia sido presa por tráfico de drogas, deixando-as sem as menores condições de
sustento. Sem pensar muito, esta mulher as acolheu, mesmo já tendo um filho de
15 anos para criar. O marido, que concordou sem pestanejar, foi o primeiro a
dar todo o apoio. E assim, conversa aqui e ali, acabei conhecendo Adriana e seu
marido Eliel.
À época, junho de 2012, eu
finalizava meu estágio no jornal Cruzeiro do Sul. Algumas semanas antes da
despedida, consegui apoio de meu supervisor, Thiago Arioza, e da editora do
caderno “Ela”, Helena Gozzano, para que a reportagem acontecesse. Acompanhado
do fotógrafo Aldo Silva, conheci a casa de Adriana, que não mediu palavras e
falou por mais de uma hora sobre sua história. E assim surgiram os rostos de Diego (15 anos), Eduardo (13), Talita (9), Leonardo (7) e
Thainara (2), os novos membros da casa.
A matéria foi
publicada em uma sexta feira, 22 de junho, com o título “Sujou o tênis, eu
lavo. Deixou bagunça? Eu arrumo”, representando uma das frases de Adriana que
dizia muito sobre a forma como ela tratava seus filhos. Ainda no mesmo mês,
surgiram reportagens de outros veículos da cidade. O momento de maior
repercussão da história ocorreu quando a Record levou a família para o Programa
do Gugu. Em um quadro conhecido do programa, eles receberam uma casa nova, com
tudo que tinham direito: roupas, utensílios domésticos, televisão e muitas
outras coisas.
Os meses que
sucederam a reportagem apresentaram a mim um lado do mundo que talvez eu ainda
não conhecesse. O lado solidário das pessoas. Aquele que normalmente nós só
vemos em filmes ou em propagandas exageradas. Um professor de São Paulo que
veio diversas vezes à casa de Adriana, trazendo alimentos, uma bola de futebol
e um violão para as crianças. Uma academia, também da capital, que queria
oferecer apoio financeiro ao casal. Pessoas de outros estados entrando em
contato, pelo Facebook, pedindo o telefone e o endereço da família para enviar
doações. O copo pela metade, que costuma estar sempre meio vazio, finalmente
tornou-se meio cheio.
Orgulho é uma palavra frágil e arraigada de
sentidos pejorativos, mas não há outra: foi a primeira vez que tive esta
sensação no trabalho jornalístico como uma porta às histórias de pessoas
maravilhosas como Adriana. Uma mãe que já cumpria seu papel com seu filho
Maurício, mas que se sentiu na obrigação de fazer mais. Como ela mesma disse ao
fim da entrevista: "Disseram que foi loucura o que eu fiz, e até hoje
alguns reafirmam, Mas loucura mesmo seria ter abandonado essas crianças quando
elas mais precisavam de mim".
Ser mãe vai além
de uma gravidez. Consiste em uma maturidade que exige coragem, inteligência,
bom senso e muitos sacrifícios pessoais. Este texto parabeniza vocês, “mães de
coração”. De uma forma ou de outra, somos todos seus filhos.
Luiz
Fernando Toledo, 21 anos, é jornalista, pós-graduando em Ciência Política e
autor do livro “Vaidades, contradições e alguns quilos de argila”, um retrato
de seis artistas da cidade de Sorocaba-SP. Outros textos do autor podem ser
lidos no site www.luizfernandotoledo.com
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